O Papa e a Dona Lurdes
Como se não bastasse o Bush, agora vem pra cá o Papa. E eles não vão para Brasília ou, a fim de conhecer o Maracanã, para o Rio. Fazem questão de andar na Marginal para infernizar diretamente minha vida.
Este país está pior frequentado que a praça em frente à TV Cultura depois das 20h. Pergunta se a Lauryn Hill vem? Nada, tenho que me contentar com o Ratzinger.
Hoje de manhã vi na TV que foram divulgadas fotos do quarto onde o Papa vai se hospedar em sua passagem pelo país. “Papa abre sua suíte para a Caras”. Só falta. Será que o Papa vai ser fotografado com aquele roupão felpudo?
Deixa ver se eu entendo: o Papa é um líder religioso. Edir Macedo, que está ampliando seus negócios e agora investe no ramo de venda de jatos e outras aeronaves, também é. E o rabino que roubou gravatas? Também né?
Alguém aqui no trabalho soltou ontem que só falta o Dalai Lama ser pego em um motel com seis menores e o mundo está perdido mesmo. E o outro manda: “Judeu na Luis Vitton? Só pode ser roubo mesmo, um judeu tirar mil dólares do bolso pra comprar gravatas é mais improvável do que um rabino roubar”. Maldade.
Voltando ao alemão, o que eu não consigo entender é porque alguém empossado para falar em nome de Deus precisa de tanta pompa. Qualquer semelhança com as questões sempre levantadas sobre o Bispo Macedo ou qualquer outro desses não me parece coincidência. Ainda bem que Cristo ressuscitou, senão estaria se debatendo no túmulo.
Consta ainda que estamos falando de um homem sem nenhum carisma, com idéias retrógadas e que só ajudam a piorar a saúde pública e o preconceito no mundo. Qual é o legado do Ratzinger?
Ah, e para que o “Santo Padre” possa dar o ar da sua pouca graça por aqui, foram exigidas reformas milionárias por onde ele vai passar. Santo? Santo por quê? Algum milagre comprovado, com testemunhas e contraprova, como a Igreja Católica exige?
Tenho o maior respeito pela fé das pessoas, tanto pelas que seguem o Papa quanto pelas que seguem a Igreja Universal. A fé é legítima sempre. Mas meu respeito acaba aí.
Minha sobrinha nasceu há cerca de 20 dias. Como toda recém nascida, a pequena tem dado bailes durante boa parte da noite. Dorme nada. Como segue a tradição, foi levada à benzedeira para “tirar o quebrante”.
Dona Lurdes faz parte da minha pouca memória de infância. Me vejo sentada em uma cadeira no meio da sala da casa dela. Uma escadaria grande, várias casas no quintal. Um monte de crianças que ficavam em silêncio o tempo todo em que estávamos lá, netos, bisnetos. Parede verde descascada, por baixo tinta rosa. Retratos antigos na parede, sofá com espuma à mostra. Ela balançando os galinhos de arruda em volta do meu corpo, murmurando palavras que eu não entendia, de olhos fechados.
No final, a tal arruda completamente murcha e lá vinha algum diagnóstico e a prescrição: “quebrante, olho gordo, bucho virado, precisa de banho de sal, acende uma vela para o anjo da guarda dela, volta aqui durante três ou sete dias no mesmo horário.”
Católica fervorosa, deve ter quase 70 anos, benzeu todas as crianças e muitos adultos do bairro, nunca cobrou nada e quando vai até a casa do enfermo, não tem nem tempo para um café.
O despreendimento, a fé e a disponibilidade de Dona Lurdes a faz, ao meu ver, muito mais santa que o Papa alemão.
Minha sobrinha tem tido noites mais tranquilas nos últimos dias. E, linda, sorri enquanto dorme.
Este país está pior frequentado que a praça em frente à TV Cultura depois das 20h. Pergunta se a Lauryn Hill vem? Nada, tenho que me contentar com o Ratzinger.
Hoje de manhã vi na TV que foram divulgadas fotos do quarto onde o Papa vai se hospedar em sua passagem pelo país. “Papa abre sua suíte para a Caras”. Só falta. Será que o Papa vai ser fotografado com aquele roupão felpudo?
Deixa ver se eu entendo: o Papa é um líder religioso. Edir Macedo, que está ampliando seus negócios e agora investe no ramo de venda de jatos e outras aeronaves, também é. E o rabino que roubou gravatas? Também né?
Alguém aqui no trabalho soltou ontem que só falta o Dalai Lama ser pego em um motel com seis menores e o mundo está perdido mesmo. E o outro manda: “Judeu na Luis Vitton? Só pode ser roubo mesmo, um judeu tirar mil dólares do bolso pra comprar gravatas é mais improvável do que um rabino roubar”. Maldade.
Voltando ao alemão, o que eu não consigo entender é porque alguém empossado para falar em nome de Deus precisa de tanta pompa. Qualquer semelhança com as questões sempre levantadas sobre o Bispo Macedo ou qualquer outro desses não me parece coincidência. Ainda bem que Cristo ressuscitou, senão estaria se debatendo no túmulo.
Consta ainda que estamos falando de um homem sem nenhum carisma, com idéias retrógadas e que só ajudam a piorar a saúde pública e o preconceito no mundo. Qual é o legado do Ratzinger?
Ah, e para que o “Santo Padre” possa dar o ar da sua pouca graça por aqui, foram exigidas reformas milionárias por onde ele vai passar. Santo? Santo por quê? Algum milagre comprovado, com testemunhas e contraprova, como a Igreja Católica exige?
Tenho o maior respeito pela fé das pessoas, tanto pelas que seguem o Papa quanto pelas que seguem a Igreja Universal. A fé é legítima sempre. Mas meu respeito acaba aí.
Minha sobrinha nasceu há cerca de 20 dias. Como toda recém nascida, a pequena tem dado bailes durante boa parte da noite. Dorme nada. Como segue a tradição, foi levada à benzedeira para “tirar o quebrante”.
Dona Lurdes faz parte da minha pouca memória de infância. Me vejo sentada em uma cadeira no meio da sala da casa dela. Uma escadaria grande, várias casas no quintal. Um monte de crianças que ficavam em silêncio o tempo todo em que estávamos lá, netos, bisnetos. Parede verde descascada, por baixo tinta rosa. Retratos antigos na parede, sofá com espuma à mostra. Ela balançando os galinhos de arruda em volta do meu corpo, murmurando palavras que eu não entendia, de olhos fechados.
No final, a tal arruda completamente murcha e lá vinha algum diagnóstico e a prescrição: “quebrante, olho gordo, bucho virado, precisa de banho de sal, acende uma vela para o anjo da guarda dela, volta aqui durante três ou sete dias no mesmo horário.”
Católica fervorosa, deve ter quase 70 anos, benzeu todas as crianças e muitos adultos do bairro, nunca cobrou nada e quando vai até a casa do enfermo, não tem nem tempo para um café.
O despreendimento, a fé e a disponibilidade de Dona Lurdes a faz, ao meu ver, muito mais santa que o Papa alemão.
Minha sobrinha tem tido noites mais tranquilas nos últimos dias. E, linda, sorri enquanto dorme.