Eu falo sozinha!!!

terça-feira, novembro 21, 2006

Maionese


Admito que discutir nunca me pareceu um problema. Ao contrário. Você diz abóbora, eu acho que é moranga, cada um expõe como enxerga a verdura (?), trava-se ali um embate no campo dos argumentos, da retórica, da necessidade de mostrarmos ao outro e ao mundo nosso ponto de vista. Democrático, necessário e adulto.

Mas aprender a discutir é uma arte. Para poucos. A maioria de nós se perde entre o argumento e a imposição de idéias, entre a tentativa de melhorar uma situação e a competição para ganhar o troféu, o trono e a coroa de dono da razão.

O fato é que na maioria das vezes não queremos ser convencidos de nada. Já começamos uma discussão com a certeza de que seja lá o que for dito, temos cá nossas convicções e ponto. Perde-se mais tempo tentando ganhar a luta por pontos do que esforçando-se para ouvir e separar o que concordamos do que achamos que merece contrapartida.
As chances da pessoa a sua frente não estar dizendo uma única coisa sequer que faça algum sentido é remota. Sem generalizar, é claro.

Isso quando a discussão – que devia ter hora para começar e terminar – não fica andando em torno de si mesma. “Cinco minutos para a tréplica, desculpe candidato seu tempo acabou”. Ninguém pode merecer discussões sem fim. Chame o Bonner, por favor. Tratando-se de casais, nós mulheres somos doutoras no assunto e a fama da classe de prolongar a “DR” procede. (Nem merece comentários aqui a escolha da hora do futebol para fazer isso).

Eu costumo dizer que as discussões devem terminar a tempo de ir ao cinema. Ainda que seja a última sessão. Trato aqui claro apenas de pontos de vista diferentes de pessoas que se respeitam e se gostam e não de motivos que devem te fazer pensar em não conviver mais com alguém.

Os homens por sua vez, sem generalizações novamente, têm a incrível capacidade de achar que as coisas se resolvem por elas mesmas. Falemos outra hora. Não falemos. Não faça dramas. Tempestades, copos d`água... Tsc, tsc.

Fato é que a discussão padrão que deveria ter um papel saudabilíssimo, principalmente entre os casais, via de regra perde completamente o sentido e pelos mais diferentes motivos. Errar o tom está na lista. A falta de habilidade em se colocar no lugar do outro também. Querer subestimar o quanto alguma coisa afeta o outro só porque a nós “nem faz muito sentido”, corre por fora mas está bem colocado.

Ao fim cada um fica com a sua verdade, aquela mesma do começo, só que agora achando o outro um intransigente. Quando não um dramático. Quando não um exagerado. Quando não um insensível.

“Como ter uma discussão” devia fazer parte do currículo escolar obrigatório. Aposto que o Cristóvam Buarque concorda comigo.

terça-feira, novembro 14, 2006

"Assume sua brisa!"


A Veja faz campanha contra o Lula, a Carta Capital força a barra para defender o presidente, o Tralli se fantasia até de Sininho do Peter Pan para conseguir um furo na PF, a Globo achou ou não que a notícia do dossiê era mais importante que um acidentizinho com um avião da Gol. Repórter faz conluio com polícia, veículos servindo a interesses dos mais diversos, o que é denúncia e o que é perseguição, o que é opinião e o que é fascismo.

O “modus operanti” do jornalismo brasileiro tem tido questionamentos que não acabam mais. Eu tenho cá minhas opiniões mas não era bem disso que queria falar. Uma coisa que eu acredito é que todo mundo tem o direito de saber o que está levando pra casa.

Não vale dormir de cabelo preso nas primeiras noites já que ninguém aguenta isso para sempre. O rapaz tem o direito de saber que você acorda descabelada se ele pretende amanhecer com você para o resto da vida. Essa é a lógica.

Se é para puxar sardinha para um canto, seja lá pelo motivo que for, vamos contar ao povo que lado é o nosso. Paulo Henrique Amorim fez isso no Blog dele. Não que ele um dia tenha conseguido esconder para onde o peixe dele pende, mas agora ele avacalhou. Entre outras coisas disse, e eu levantei a plaquinha de "eu já sabia", que não engole mesmo o FHC, o Ronaldo Fenômeno, a Globo e o Flamengo. Ah, e o Daniel Dantas, é claro.

A questão não é se você concorda ou não com o PHA. Mas derrubar o mito da imparcialidade permite que cada um decida se vai perder tempo lendo ou ouvindo o que ele tem a dizer. Se a Revista Veja, por exemplo, fizesse o mesmo, algumas discussões tolas como porque eles defendem tanto os tucanos seriam esgotadas e o Campeonato Brasileiro voltaria ao centro das atenções.

O título do texto lá no Conversa Afiada é “não coma gato por lebre” (www.conversa-afiada.ig.com.br)

Plagiando o PHA, eu que também acho que ninguém deve levar o bichano errado para sua residência, deixo claro que o “Eu falo Sozinha” não gosta de:

1) E.C. Corinthians Paulista
2) Vila Olímpia
3) Água com gás, camarão, linguiça, salsicha e beterraba
4) Quem mente e não fica vermelho
5) Quem come de tudo e não engorda
6) Yellow people
7) Homem de luzes no cabelo
8) Inverno
9) Modernosos
10) Gente que não sabe quando parar (exclui-se o Romário que tem todo o meu respeito)

segunda-feira, novembro 13, 2006

Novo

Ela acordou diferente. Horas demais dormindo na mesma posição lhe traziam dores nas costas e no corpo todo. É mesmo sempre assim quando se dorme demais.

Sentou na cama, deitou de novo. Estava diferente. Na terceira tentativa conseguiu levantar, na quarta conseguiu sair do quarto. Ligou o som, ouviu metade de uma música e preferiu o silêncio de novo. Andava descalça pela casa toda, achou um pouco de sol na varanda. Encostou-se na parede e sentou-se no chão.

Tinha pouco tempo antes da sequência tomar-banho-comer-qualquer-coisa-ir-ao-trabalho. Para quem dorme mais do que pode essa rotina diária que deveria ser tranquila como em comercial de TV é feita sob a pressão do atraso e se torna uma corrida de 100 metros. Mas a isso ela estava indiferente.

Fechou os olhos e, ainda sonolenta, quase sonhou. Nunca sabia mesmo em que momento era sua imaginação com tendências à realidade fantástica e em que momento eram sonhos aquelas imagens e dialógos que apareciam na cabeça quando começava a adormecer. Mas dessa vez foi diferente porque ela nem se importou em saber.

Abriu os olhos de novo e sentiu o sol queimar. Por um momento se perguntou se já tinha se sentido assim. Será? Em seguida percebeu que esta não era a grande questão que se apresentava. Estava tudo diferente. Ao menos, e não era pouco, ela via tudo assim. Ela estava diferente. Já não era mais a mesma e isso era o melhor que poderia acontecer.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Onde tem fumaça...



De tudo. Mas de tudo mesmo. Comigo não há o que não possa acontecer. Ratifico isso a cada dia quando bizarrices de todas as cores e tamanhos me acometem.

Uma das histórias mais famosas e que nomeou minha “tendência a vivenciar coisas diversas”, digamos assim, é a do sorvete com fumaça.

Eu e uma amiga em um ônibus que saía do Parque Dom Pedro para São Bernardo em um dia quente. O vendedor de picolés adentra vendendo sorvetes genéricos, aqueles de 50 centavos, sabe? Eu faço cara de “não sei não” ao olhar para isopor – admito, não sou fresca pra nada nessa vida (não, não sou!) mas pra comer...

A amiga não pensa duas vezes, já está se divertindo com o sorvete dela enquanto eu não consigo nem me livrar da embalagem grudada no meu e que soltava tinta. O picolé de coco a esta altura já era de coco verde, cor da embalagem. Quando enfim consigo abrir, sai um monte, um monte de fumaça do raio do sorvete, ultra congelado. “Ahhh, no meu sorvete tem fumaça”, eu caí na besteira de dizer.

Pronto. Foi o suficiente para que “fumaça” fosse eleita a palavra para os comentários sobre tudo de louco que acontece comigo “Pô Rê, mas que fumaça hein!!”. Só eu sei o quanto eu ouço isso.

Dia desses a mesma amiga do ônibus me convida para comer um bolo de chocolate na casa dela. Chego lá e quando entro, tinha fumaça por toda a casa! O bolo tinha crescido demais, derramado no forno, uma fumaceira danada... parecia piada pronta!

Mas antes fosse só com comida meu repertório. Um rapaz que estava em liberdade condicional bateu no meu carro às duas da manhã, chovia e eu estava sozinha. Eu não recebi nada pelo prejuízo e não pude ir até a Delegacia para fazer um BO por motivos óbvios.

As namoradas e ex-namoradas de atuais ou de ex-namorados sempre descobrem meu número e me ligam em algum momento. Para ouvirem minha voz, para me xingarem, para me convidar para festas (juro!), para pedir para que eu deixe ele em paz.

Sobre relacionamentos não vou nem dizer nada porque todo mundo tem uma história triste pra contar. Mas olha, eu já fui pedida em casamento por um cara maluco que era meu chefe, 25 anos mais velho e já casado. E já aceitei um outro pedido de casamento que foi retirado logo em seguida.

Uma vez a alça do meu sutiã quebrou minutos antes de uma entrevista de emprego.

Já torci o joelho andando no parque na mesma semana em que fui demitida após ter trocado de emprego há menos de um mês.

Casamento de uma amiga, um calor infeliz, minha pressão baixou em pleno altar e eu, madrinha, só não desmaiei porque Deus não permitiu que uma quantidade exagerada de fumaça entrasse em Sua casa.

Se eu fosse roteirista de “Minha nada mole vida” não faltaria assunto para umas quinze temporadas.

Bom, tudo isso foi só para dizer aos meus amigos preocupados e queridos que assumo minha porção chaminé, mas que no momento começo a enxergar tudo mais claramente. Sim, bonitos... acho que enfim a fumaça está baixando.