Maionese
Admito que discutir nunca me pareceu um problema. Ao contrário. Você diz abóbora, eu acho que é moranga, cada um expõe como enxerga a verdura (?), trava-se ali um embate no campo dos argumentos, da retórica, da necessidade de mostrarmos ao outro e ao mundo nosso ponto de vista. Democrático, necessário e adulto.
Mas aprender a discutir é uma arte. Para poucos. A maioria de nós se perde entre o argumento e a imposição de idéias, entre a tentativa de melhorar uma situação e a competição para ganhar o troféu, o trono e a coroa de dono da razão.
O fato é que na maioria das vezes não queremos ser convencidos de nada. Já começamos uma discussão com a certeza de que seja lá o que for dito, temos cá nossas convicções e ponto. Perde-se mais tempo tentando ganhar a luta por pontos do que esforçando-se para ouvir e separar o que concordamos do que achamos que merece contrapartida.
As chances da pessoa a sua frente não estar dizendo uma única coisa sequer que faça algum sentido é remota. Sem generalizar, é claro.
Isso quando a discussão – que devia ter hora para começar e terminar – não fica andando em torno de si mesma. “Cinco minutos para a tréplica, desculpe candidato seu tempo acabou”. Ninguém pode merecer discussões sem fim. Chame o Bonner, por favor. Tratando-se de casais, nós mulheres somos doutoras no assunto e a fama da classe de prolongar a “DR” procede. (Nem merece comentários aqui a escolha da hora do futebol para fazer isso).
Eu costumo dizer que as discussões devem terminar a tempo de ir ao cinema. Ainda que seja a última sessão. Trato aqui claro apenas de pontos de vista diferentes de pessoas que se respeitam e se gostam e não de motivos que devem te fazer pensar em não conviver mais com alguém.
Os homens por sua vez, sem generalizações novamente, têm a incrível capacidade de achar que as coisas se resolvem por elas mesmas. Falemos outra hora. Não falemos. Não faça dramas. Tempestades, copos d`água... Tsc, tsc.
Fato é que a discussão padrão que deveria ter um papel saudabilíssimo, principalmente entre os casais, via de regra perde completamente o sentido e pelos mais diferentes motivos. Errar o tom está na lista. A falta de habilidade em se colocar no lugar do outro também. Querer subestimar o quanto alguma coisa afeta o outro só porque a nós “nem faz muito sentido”, corre por fora mas está bem colocado.
Ao fim cada um fica com a sua verdade, aquela mesma do começo, só que agora achando o outro um intransigente. Quando não um dramático. Quando não um exagerado. Quando não um insensível.
“Como ter uma discussão” devia fazer parte do currículo escolar obrigatório. Aposto que o Cristóvam Buarque concorda comigo.